era só.
da janela, uma rua calma do bairro de botafogo. essa era a vista que seus olhos tinham todas as manhãs, enquanto bombardeava o estômago com mais uma caneca cheia de café preto e puro. era só e não tinha medo. ia às ruas todos os dias, à trabalho ou por distração. observava o comportamento dos transeuntes e sentia-se diferente. era só por não encontrar quem completasse sua estranheza. à noite, lia poemas de suas muitas antologias. a luminária fraca era a companhia, bem como uma taça de vinho, em contraponto ao calor de verão insuportável da cidade. era só e sabia. e assim passava pelos dias, imaginando o próximo momento. talvez, algum dia, dessem por sula falta. os transeuntes que observava notariam, talvez, que ela e sua objetiva não estavam mais a captar a vida que não a tocava. ou talvez não. e seria só até a hora em que não seria mais. não seria mais nada. não seria mais ninguém.