quinta-feira, 16 de novembro de 2006

ao que ficou pra trás.

chorei. palavras me quebram. não são socos, tapas, pontapés, tiros. são palavras. e me quebraram sim, em mil pedaços. talvez eu tenha mesmo merecido ser quebrada pra aprender a controlar os pensamentos e os impulsos. aprender a não remexer no que passou. aprender com as coisas que ouvi em abril: "quanto tempo mais você vai dar tanta importância ao que já ficou pra trás?"
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nessas horas, mesmo sabendo que a errada sou eu, eu corri. busquei abrigo, busquei compreensão, busquei colo. corri pra vó. chorei, chorei, chorei. tentei achar justificativa em vão. morri de medo. tremi. mas, calei e ouvi. talvez eu precise calar mais, ouvir mais. criar esse escudo em volta de mim e bradar aos ventos que estou bem, que sou isso e aquilo, não é a melhor solução. afinal, que isso e aquilo sou eu? quatro quilos mais magra, dois tons mais ruiva. ainda medrosa. ainda travada. ainda complexada. ainda melancólica. e isso, não hei de bradar.
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a vó me olhou nos olhos e disse: ana, o que a vó ensinou desde pequena? eu, com os olhos marejados, tentei me recordar de todas as frases de efeito que ela tinha pregado na minha mente nesses vinte e um anos. e nada. eu só conseguia me sentir pequena, suja, destituída, amedrontada. ela levantou meu queixo com um toque suave da mão e disse: ana, a vó sempre disse e vai dizer mais uma vez... primeiro você tem que gostar de você mesma. se você não gostar de você mesma, ninguém vai gostar. se você não gostar de você mesma, você vai sair por aí fazendo, falando sem pensar. gosta de você, minha filha. se joga na faculdade. se cuida. se aprimora no trabalho. filha, se gosta. pensa se vale a pena falar e fazer as coisas que, às vezes, seu coração quer falar e fazer. o coração, às vezes, é tolo. e não enxerga que um passo que ele dá pode derrubar ele dois passos à frente. pára e pensa, filha. tudo na vida é lição.
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esbravejar, fingir, purgar... e por que não pensar antes? pára e pensa um pouco. pára e pensa que, quando a gente se gosta, a gente quer ficar bem. e todas essas coisas ruins que a gente pensa ou deixa pensar, sente ou deixa sentir, não fazem bem. se a gente quer ficar bem, então, a gente deixa os outros viverem bem. e a gente vive bem, livre da culpa, livre do medo. um passo de cada vez. sem atropelar quem está na frente. sem atrasar quem está atrás.
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e, no fim das contas, eu acabei caindo na minha própria conclusão. e não é que eu sou uma das pessoas que não enxergam nessa vida? move on, be brave.