segunda-feira, 27 de novembro de 2006

dois por cento.

muitos me dizem que tenho apenas vinte e um anos e uma vida pela frente. ao mesmo tempo, coisas "da vida" se colocam no caminho me dando a impressão que, talvez, ter uma vida inteira pela frente seja mais uma espécie de punição do que de dádiva.
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apesar dos meus vinte e um anos e nenhum prospecto de casamento e afins, eu sou uma daquelas garotas que, criada numa família tradicional, tem pra si essa vontade de constituir a sua própria unidade familiar, ter casinha, carrinho popular e até um mascote. e pode até ser cedo agora, nesse exato momento, mas em algum momento isso vai ser realidade. eu espero.
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o problema é que, aos vinte e um anos - torno a salientar essa idade - eu recebo a notícia de que eu vou ter problemas sérios pra gerar uma vida. enquanto inúmeras mulheres engravidam até por acidente, o meu prospecto é de tratamentos pra garantir a chance de colocar um pedaço de mim no mundo.
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é claro que, com a medicina moderna, existem noventa e oito por cento de chances dos tratamentos fluirem muito bem e de eu me tornar uma mãe orgulhosa do meu rebento. mas não é extremamente assustador saber aos vinte e um anos que existem dois por cento de chance de eu não cumprir esse meu desejo? é assustador, eu afirmo.
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mais assustador que a possibilidade de carregar um serzinho no ventre agora, o que desandaria completamente a minha vida, é a possibilidade de não poder carregar um. nem hoje. nem amanhã.
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os dois por cento de chance podem não parecer nada pra quem lê eu me queixar deles. mas pra mim, que sou "vítima", parece um mundo infinito de possiblidades. eu posso não ter namorado, eu posso não fazer idéia do que o futuro me aguarda, mas eu já estou com medo de uma porcentagem que pode me negar uma coisa que eu sempre quis. e ainda quero. muito.
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ser mulher, muitas vezes, é mais difícil do que se imagina por aí.