sábado, 27 de janeiro de 2007

goo' mornin', lil' schoolgirl.


eu tinha por volta dos meus quinze aninhos e vestia aquele uniforme de saia de pregas, meias três quartos e blusinha de botão, sapatinho boneca. era uma autêntica aluna do colégio pedro II, onde passei oito maravilhosos anos da minha vida.
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eu não sabia de nada e é pensando nesse tempo que me vem à cabeça uma das coisas mais sábias que já ouvi: ignorance is bliss (a ignorância é uma benção, se é que se pode traduzir porcamente assim).
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eu era feliz, ali sentada no degrau do meu portão, esperando aquele ser (quase príncipe encantado) subir a rua e, é claro, não me notar (nunca, nem depois de crescidinha). mas não era preciso. meu anseio era em vê-lo. na minha cabeça de quinze anos não existia outra possibilidade além da de se encher os olhos. o coração batia mais rápido, coisa de criança, ciranda (se essa rua, se essa rua fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar... com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante só pra ver você, príncipe perdido, novamente por ela passar).
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o vento farfalhava a saia que, muito tempo depois, descobri ser mui admirada pelos rapazes em geral. fetiches aos quais eu era imune na minha inocência virginal de rabo-de-cavalo escorrendo pelas costas.
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o não saber era uma dádiva. o não saber era o que incitava, era o que fazia com que eu me sentisse viva, sedenta por entender o mundo e os próximos passos a serem dados. não sabia o seu nome. não sabia de onde você vinha. não sabia para onde você ia. e a magia era poder imaginar tudo isso. eu me lembro como se fosse ontem. um príncipe expatriado e com um certo ar rebelde. e eu, princesinha ingenua (prenda minha, parabólica. princesinha clara bucólica).
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aqueles foram os dias e aquela era a vida... onde o menor dos desejos se confundia com a maior das felicidades. dias em que o pouco bastava e me fazia flutuar, fosse um sorriso meio de canto de boca, ainda que em seu pensamento ele significasse "que ridícula!", diante dos meus olhos de quinze anos, era a realização de momentos sonhados antes de dormir. era puro. e sentimento assim eu não volto a ter. por ninguém. porque se perdeu muito lá atrás e o mundo veio e atropelou. hoje é só lembrança, sensação, saudade.
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a gente perde a inocência e passa a saber, a conhecer, a entender. e, com isso, tiram da gente o sentimento bruto, o sentimento no melhor estado: à ser lapidado... uma pena. a felicidade não volta mais daquele jeito manso. e as coisas precisam ser cada vez maiores para serem notadas.
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se eu pudesse, eu voltava no tempo sim.
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ouvindo: i'm gonna find another you - john mayer.