
maria, maria. traz no corpo a marca de quem me carregou nove meses. e, certamente, mais marcas de quem me aturou vinte e dois anos. coragem, cuidado e carinho na fronte. e a saudade que ela deixa quando, ainda que morando debaixo do mesmo teto, não tem o tempo para me ver. mas eu sei que, de manhã cedo, ela vela o meu sono silenciosamente. deve ser coisa de mãe e, um dia, eu vou entender tudo "tim tim por tim tim". por enquanto, a coisa mais certa, é o que ela representa para mim. enquanto tanta gente busca modelo fora de casa, eu tenho uma espécie de mulher maravilha reinando entre essas paredes. são 48 mulheres em uma, um número completamente aleatório no qual acabei de pensar, mas que representa bem essa multiplicidade que ela bem exerce por aí. maria, maria. às vezes se orgulha de mim e, às vezes, quer me dar uns puxões de orelha. nada que eu não mereça, é claro. vinte e dois anos na cara e, às vezes, pareço ter quinze. mas a vontade de ser uma maria, maria é que me guia nesse caminho. olha, é até suspeito falar de todas as qualidades que ela tem, mas é inevitável dizer, ao menos, que a minha vida hoje é reflexo de tudo que ela quis quando eu ainda nem podia compreender esse mundo doido. ela, olha, se desdobra tal qual origami e me empurra, às vezes, para que eu aprenda a jogar esse jogo. e eu vou caminhando torta feito patinho. mas um dia eu acerto sim. ela faz votos e eu confio no trabalho! melhor que político que promete é a minha mãe que faz. desde os desagradáveis "vai comer o vomitado" da minha infância até as dicas de vaga de estágio que parecem se renovar a cada dia. e se você me perguntar se eu faria diferente no lugar dela, eu diria que não. tantas as condições adversas para se viver e essa mãe aí tem a coragem de botar dois no mundo. e de não dormir quando os dois estão nas ruas do rio de janeiro. e de perguntar pelas companhias dos dois, de querer ver cara e, às vezes, coração. e de cuidar para que os dois sejam pessoas não só de bem como bem feitas na vida. e de amar os dois sem tamanho, sem predileção, sem deixar que os dois a enloqueçam. porque, sim, é verdade: somos uma dupla e tanto. o que um tem de um jeito complementa o jeito do outro. e aí somos quase invencíveis. só quebrados por ela, santa mãe que nos atura tanto e tão bem e que, ao contrário das tirinhas do jornal de domingo, não vive de avental e rolo de macarrão na mão. aliás, ela é moderna. fala no celular, passa fax e até email ela já anda dominando. próximo passo é ela saber o que é um blog e acabar caindo aqui, nesse meu humilde confessionário virtual. e capaz de criar um para ela! maria, maria. inteligente e sensata. de onde herdei essas duas características vitais. além da minha modéstia, é claro. e o esverdeado dos olhos que crescem na fúria, clareiam na alegria e serenam leves na tristeza. essa mulher, cara, é o bicho. se um dia ela se perguntar onde errou, eu sou a primeira a dizer: nunca. parece que tem ligação direta com deus. "se ela fala, tá falado!" e eu vou acatando aqui, ali e aprendendo. um dia eu vou ser assim também. um dia eu vou domar trabalho, casa, marido e as crianças pentelhas. eu tenho fé! se eu for um terço da maria, maria... ah! se eu dormir às onze para acordar às quatro... e sem reclamar! quem sabe eu não dou uma boa maria, maria dessas? por enquanto, fico "estagiando". ela fala, eu escuto, processo, entendo, gravo.
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terra de gigantes - engenheiros do hawaii.