domingo, 22 de julho de 2007

a sala sem móveis.

saudade.
.
é estranho. não é mais uma sensação dolorida de falta. é uma sensação de vazio. é como se eu estivesse dentro de uma bolha de ar e, se me arremessasse para qualquer lado da mesma, nada pudesse acontecer. sensação de inércia. de dormir sem pensamentos e vontades e de acordar do mesmo jeito. sensação de coisa morta, sensação de comida sem sal.
.
não é que não me falte uma parte e não é que isso me doa. é como se eu fosse todo um vazio. é como se eu quisesse esticar os braços pr'alcançar uma coisa que não está ao alcance. não dói e não cutuca, simplesmente não existe. e, acredito, não há nada mais incômodo que o "não existir". o "não existir" é um nó na garganta que impede a gente de falar, é um entupimento de veias e vias respiratórias, é o lento cessar das atividades musculares. é como se, de leve, a vida fosse deixando a gente de lado, pra escanteio.
.
saudade não dói mais, desperta. é um buraco negro, um silêncio infinito, um lembrete constante do que foi bom e não durou. e não dá mais vontade de chorar, não dá raiva e nem desgosto. simplesmente empaca o resto todo porque é como uma sala fechada sem móveis. e ninguém entra lá porque ninguém quer sentar no chão.
.
é estranho. e mais estranho é saber que isso só acaba quando, de repente, alguém chega manso e pinta uma cor diferente no que se vê todo dia. de repente as coisas ganham movimento. e os contornos antes pré-definidos se misturam. e uma nota musical, a primeira, quebra o silêncio.
.
mas, por enquanto, saudade. uma coisa que não dói mais, mas incomoda como ficar em silêncio com gente que não se conhece. é tão quieto que grita. e grita sempre lembrando do que já se perdeu. enquanto isso, o coração grita de volta dizendo que vai se conformar. e o vazio - a sala sem móveis - continua lá.
.
.
.
ouvindo: quase um segundo - cazuza.