domingo, 23 de setembro de 2007

vinho, letras, pautas.

tenho a cabeça um tanto quanto aérea. pela primeira vez, em quase um mês, consumi uma taça inteira de vinho tinto. os dedos da mão direita estão um pouco dormentes. sensação estranha. não consigo sequer ficar deitada, imóvel. em pé é difícil, sinto que tudo se move ao meu redor. uma taça. uma única taça, brilhante e gelada, de um tinto suave e adocicado. uma única taça.
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enquanto isso, no meu pensamento, acumulam-se textos metidos a literários que mereciam, ao menos por minha parte, serem redigidos. há fantásticas histórias pontilhadas de amor, traição, corrupção, ingenuidade, violência, medo... há rubem fonseca em todas as linhas. tem quem diga que eu siga a escola do manoel, mas a verdade é que, se leio quem me impressione, automaticamente sinto-me compelida a tratar das coisas como o mesmo. é natural. na verdade, acredito ter tido o rubem em mim por todo o tempo, mas chocaria a todos vocês acostumados com a minha melosidade romântica descritiva e textos de exaltação de meus orgulhos.
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de repente, ver-me crua usufruindo das palavras para realizar o que idealizo na mente antes de dormir pode chocar aos que aqui vêm buscando lamúrias e um amor inocente. não que isso não faça parte de mim. é claro que faz. ou, de que maneira eu seria capaz de colocá-los em palavras que soam tão atordoadoramente verdadeiras? no entanto, há o lado excuso. há o lado que, há uma semana, quer sair inspirado por trezentas páginas que, vez ou outra, respingam sangue nas mãos do leitor de "a grande arte".
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talvez essas sejam palavras tontas de quem, depois de rigoroso mês de dieta controlada, ingeriu uma taça de vinho. e o tal desceu viscoso, como mel, pela garganta. uma sensação de prazer única que estava extinta pelos dias de vegetais, peixes, frangos e limonadas. e, portanto, a cabeça agora inebriada, tentando reter o momento delicioso do encontro das papilas gustativas com o líqüido púrpura da taça de vidro ordinário.
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quero escrever mais sobre o meu lado excuso. mas não aqui. não aqui diante dos olhos que podem querer me censurar. de censurada basta a vida, onde precisamos aparentar coisas para pessoas que mal conhecemos. mas não deixarei de lado esse punhado de coisas que povoa, nesse instante, a minha mente. não deixarei de lado a vivacidade que essas coisas têm em mim, a verossimilhança quase palpável... não, não deixarei.
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e, com a cabeça tonta, retiro-me em prol de aprontar duas malditas pautas para amanhã. hoje me fala mais alto meu lado literário, logo não é um bom dia para pautas jornalísticas. aliás, a semana passada não foi apropriada para atividades jornalísticas. e, talvez, a porvir também não seja. estou impregnada de literatura crua.
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mas, sim, as pautas... vamos as pautas.
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ouvindo: luz - engenheiros do hawaii.