carta perdida em abril.
rio de janeiro, algum dia qualquer do mês de abril de 2006.
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poeta,
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tu és meu vinícius de moraes. tens tantos vícios que, muitas vezes, falho em tentar enxergar tuas virtudes. sempre o cigarro no canto da boca e o copo de bebida na mão esquerda. sempre o mesmo sorriso carregando poesias que tu desperdiças por aí. tu és o meu poeta. e, por isso, amo-te em segredo, platonicamente.
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sento-me sempre ao seu lado nas rodas de amigos. tu discursas sobre teus casos. cada caso, um nome. tantas as flores que colheste nos teus caminhos. e eu, menina, assusto-me. mas ouço. porque cada flor destas compartilhou do teu sentimento. olha, poeta, a tua visão é nobre. quando te entregas, eu bem sei, te entregas por inteiro. e quando tudo acaba, que se há de fazer? já te vi cabisbaixo, zanzando em volta do copo, cigarro atrás de cigarro, escrevendo aquelas tuas canções. com o coração na mão.
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amo-te mais. amo a tua voz. amo ver-te filosofar sobre mulher no bar. amo-te calada. e rija. imaginando que teus sorrisos, teus gracejos são teu toque. é como se tuas mãos me pegassem pelos ombros, como se tu me apertasses, como se me beijasses. e, no fim das contas, faz é cantar e contar teus causos. para mim, puro deleite.
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poeta, é capaz a alma humana amar assim? sem toque, sem gosto? amar uma sensação? amar a figura boêmia que discursa, bêbada, sobre tantas verdades e inverdades nessa vida? o coração humano cala e admira.
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ponho-te no pedestal, meu poeta. tu e teus vícios. admiro-te e, calada, oro. peço para que tu, poeta, não saibas nunca desse meu amor infante. e para que sempre, nas rodas de amigo, eu possa sentar ao teu lado, ouvir teus gracejos me chamando de menina, brincando comigo que não tenho ainda idade. e que eu possa, para sempre - mesmo sendo chama - ouvir a tua voz doce cantarolando as tuas melodias. são hinos.
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hoje e sempre, poeta, tens teu lugar no meu coração. vais e vens. mas sempre vens.
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infinita enquanto dure,
a tua menina.