sair de casa é se aventurar.
ela acordou e, aos estender os braços, não sentiu a toalha molhada ao seu lado. ainda de olhos fechados, tateou então em busca do corpo morno. nada. abriu os olhos. um certo pânico lhe tomava, aos goles, a alma. olhou para os lados. paredes brancas vazias do quarto que, agora, se fechavam sobre ela. levantou-se. andou até a sala.
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a sala era ampla e iluminada. um cômodo sem divisão que ia da porta de entrada do apartamento no oitavo andar até a varanda, com vista para a praia de botafogo. desnorteada, dirigiu-se à cozinha. não havia louça por lavar. uma sensação ruim a abatia. procurou os all stars na porta e não os viu. foi até o banheiro e não havia bagunça. a toalha, seca, estava pendurada na porta do box.
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sentou-se no chão da varanda. acendeu um cigarro. tentou lembrar-se da noite anterior. a cabeça ainda doía. lembrou apenas de algumas cenas enevoadas. e não conseguiu lembrar de como havia chegado em casa. e nem com quem. isso a preocupava a cada trago.
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notou algo em cima da mesa. um pedaço de papel amassado. levantou-se. caminhou até a mesa da sala. tomou o papel nas mãos. um bilhete. "não sei se volto. fui me aventurar." o coração dela, de repente, parou. em um intervalo de batidas, parou. e, ali, pasma e confusa, ela caiu. lágrimas involuntárias encharcando os olhos. aventurar-se... e, aquilo que tinham, não era uma aventura? talvez era pouca aventura para um espírito com tanta necessidade de liberdade. liberdade... ela não queria ser livre assim.
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correu para o quarto. a porta do armário aberta. e as roupas do menino não estavam mais ali... não compreendia. o que havia de ter sido tão tenebroso na noite anterior? não lembrava. não entendia, não queria entender... jogou-se na cama. cigarro ainda empunhado.
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talvez o final desse conto seja um incêndio.
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pra entender esse, leiam o primeiro: