em jornalistês - um relato acadêmico.

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a sugestão "única" desse meu amigo foi aproveitar o fato de que fulano, vocalista da banda fulanos, estava no rio "descansando". ele pensou o seguinte: "se o assunto é banda independente, quem melhor que o cara do fulanos - uma das maiores banda independentes que a gente conhece - pra falar?" e é claro que eu concordei. realmente, avaliando toda a trajetória dos fulanos [é, eu fiz o meu dever de casa e estudei TUDO, tudinho sobre a banda e até baixei alguns trabalhos...!] eles hoje são praticamente "mainstream" sem ter uma gravadora por trás. e isso é algo que seria impensado - e improvável - há alguns anos atrás..
o problema era só um: como conseguir entrevistar um cidadão que estava em férias pela cidade? é claro que, nessas horas, a sua aluna aqui agradeceu aos céus por ter conhecidos no meio. conhecidos esses cultivados por muitas lustrações em óleo de peroba que ela tem que fazer, entendeu? e esse meu amigo, que sugeriu a entrevista, disse que tinha acabado de trabalhar com os rapazes nos últimos shows e que, portanto, não lhe custava nada convidar o elemento em questão para um jantar, um chopp, um bate-papo informal com cara de "férias" e me levar junto. obviamente vibrei! e montei a pauta com as perguntas em questão visando ser o mais profissional possível, sem correr o risco de parecer amadoramente burra ou incompetente. amor à profissão é o que há.
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no dia marcado, no horário marcado, estava eu com um mp3 player na entrada do outback steak house. com quase meia hora de atraso chega o amigo trazendo fulano consigo. trocamos sorrisos e gestos provenientes da boa educação que nossas respectivas mães nos deram [eu acho!].
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- então, fulano, essa é a amiga que eu te falei e tal. ela é jornalista!
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fulano pareceu tenso. provavelmente meu amigo não havia avisado ao rapaz que eu pretendia entrevistá-lo. fulano respondeu, arredio:
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- jornalista? mas você vai publicar as coisas que eu disser aqui?
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sorri e tranquilizei-o:
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- não, não. na verdade, eu só queria perguntar umas duas ou três coisas, é pr'um trabalho acadêmico. mas não vai ser publicado não. e, se fosse, não seria uma boa coisa? sem contar que essa futura jornalista aqui é até um incentivo! [risos! muitos risos!]
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ele, então, sorriu e pareceu respirar aliviado. e, com uma caneca de chopp numa mão e um cigarro na outra, adotou uma postura de rockstar esperando pelas perguntas. nesse momento achei que fosse ter dificuldade em obter as respostas que eu queria. por experiência própria, esses caras não costumam "dar mole" em entrevistas, ainda que sejam "informais".
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comecei a perguntar sem medo e fulano a responder, sem desviar do assunto e sempre me questionando se eu realmente não ia publicar nada daquilo. eu garanti, cerca de quatro vezes, que não. conforme eu garantia, mais "solto" ele ficava e acabamos batendo um papo informal e revelador sobre as opiniões e as experiências dele no "underground" e no "mainstream" e também da sua vida pessoal [muitas, mas MUITAS fãs gostariam de poder ter estado na minha pele naquele momento!].
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fulano é um cara simpático e muito centrado. e, depois de alguns chopps, estávamos nos entendendo melhor do que o esperado! eu, que não curto o som da banda dele, acabei compreendendo a proposta e até prometi ir a um show para conferir. ganhei até carona para casa! o que, em termos jornalísticos, não deveria acontecer [como bem frisado pelo senhor, professor!], mas como aquilo era uma entrevista maquiada de encontro casual e estava tarde e longe da minha casa, aceitei de bom grado [e estava chovendo! compreensível, né?].
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as coisas deram certo, por incrível que pareça [apesar do senhor, professor, ter me avisado que era praticamente impossível tudo dar certo!]. claro, tudo graças a ajuda do amigo e a humildade de fulano [que, putz, se tivesse um casco se encolheria feito tartaruga!]. a experiência foi bacana. aprendi coisas novas sobre o assunto e sobre como entrevistar propriamente alguém [não que a entrevista tenha sido imprópria! mas é diferente de entrevistar o próprio professor em sala! risos!]. e tive sorte, é claro. mas o resultado final vai ficar bom, tenho certeza [e sou bem modesta, como o senhor pode notar!].
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brincadeiras a parte, o mais importante nessas horas é "confiar no próprio taco". você tem que ser maior que o seu entrevistado por dentro e usar isso a seu favor. não é intimidar, é persuadir. brinque, sorria, pareça interessado no que o entrevistado diz, olhe nos olhos. por dentro, seja maior que ele confiando que você pode e vai obter as informações que você precisa. e, é claro, não deixe ele notar isso! diante dos olhos dele seja humilde, sempre."
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apenas aviso e participo aos senhores que suprimi os nomes do entrevistado e da banda (bem como quaisquer referências suspeitas) porque o mais importante não era nada disso! e, além do mais, antes que me apontem de interesseira e groupie, eu prefiro mesmo deixar vocês adivinharem! :P
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ouvindo: call the police - james morrison.