segunda-feira, 28 de maio de 2007

outono em porto alegre (ou "as asas de cada instante")

exagerada. aquela que personifica bem a noção romântica do amor platônico. aquela que vê alma antes de ver cara, de ver corpo, de ver enlace, de ver quatro paredes e uma cama. aquela que sonha as coisas simples, os cafés-da-manhã de domingo, os passeios de mãos dadas no parque da redenção enquanto as folhas amarelas se espalham debaixo dos nossos pés.
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um segundo é longo demais e capaz de mudar todos os segundos posteriores. um segundo é eterno quando a fantasia é vasta. e como amar alguém por apenas um segundo é um segredo que só ela pode saber. ela não conta. fica sussurrando no ouvido o dia inteiro a lembrança dos momentos furtivos que viveu e para quais se entregou. simples de coração.
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e quem dirá que é tão diferente assim? por que não pode ela ter seu próprio tempo? por que não pode ela cultivar carinhosamente aquele instante? hoje aquele momento impulsiona a vida a seguir, impulsiona a menina a acreditar que há algo ali na frente, depois daquela curva da vida onde o vento vira brisa. e a brisa vai soprar nos cabelos dela e nas asas que ela vê crescer a cada dia que passa. ela é sonho e, portanto, precisa de asas para voar nas noites.
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e para voar de encontro ao instante perdido, na manhã de domingo, entre os edredons do quarto branco-gelo que, bagunçados, envolvem a parte do todo que ela precisa ter e ser. ele, ali deitado, é o sujeito, o objeto, o complemento e o verbo encarnados. na manhã enevoada do pampa, com cheiro de "mate molhado".
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"nem tudo está perdido, outono em porto alegre
sou o dono dos meus passos sobre folhas mortas
o mundo fica pra outro dia, andar por aí
era tudo o que eu queria."

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ouvindo: outono em porto alegre - engenheiros do hawaii.