desequilíbrio.
.
- com licença?
.
você fingiu não ouvir.
.
- oi! eu só queria parabenizar você pelo trabalho. eu gosto demais do seu som.
.
você virou os olhos na minha direção. por trás daqueles óculos de aro preto grosso, olhos castanhos pequenos. você me olhou com desdém. será que você lembra? um desdém que até mesmo os que do outro lado da rua estavam podiam perceber. desdém esse que gelou o ar e parou o tempo para que você proferisse as seguintes palavras:
.
- eu não falo com estranhos.
.
e você virou os olhos para o sorvete, como se eu nunca estivesse estado (repare no tempo verbal, querido!) ali, na sua presença, que se supervalorizou naquele instante segundo seu próprio ego.
.
com a boca ainda entreaberta e os olhos espantados, dei passos para trás. eu e meu creme holandês que, de repente, havia perdido o sabor doce que tanto adorava.
.
estranheza. percebi então que temos a sensação de conhecer certas pessoas porque as escutamos e acreditamos, sinceramente, que o que as canções dizem são o retrato verdadeiro dos que as interpretam. ao vermos-os em fotos, na televisão, temos a impressão de que abrimos nossas portas e que eles então fazem parte do nosso dia a dia, bem como fazemos do deles. e, a verdade, é o que você mesmo comentou pelos idos desse 2003 esquecido no seu próprio blog sobre uma entrevista do humberto gessinger para a mtv: a relação fã-artista é desigual porque estes acabam conhecendo você tão intimamente através do seu trabalho, das coisas que a mídia expõe da sua vida pessoal e você não tem a oportunidade de conhecer um terço deles tão a fundo. desequilíbrio.
.
talvez, se eu soubesse naquele momento que esse tal desequilíbrio incomodava você tão profundamente, teria ouvido a parte de mim que me disse copiosamente para deixar você com seu sorvete, sua revista e sua antipatia em paz. mas, como todo ser humano, uma chance de dividir com você a minha, então, admiração me pareceu propícia.
.
não deixei jamais de admirar a banda, de me entreter com as músicas e, até mesmo, de acreditar que boa parte delas falam mais sobre mim do que eu mesma seria capaz de dizer. mas, certamente, eu hoje pensaria mais que instantes antes de qualquer demonstração de agradecimento ou afeto para você, que sempre me pareceu um dos mais simpáticos.
.
mas, como eu costumo dizer: admiração sempre, fanatismo só dentro das minhas quatro paredes (bem, bem longe das suas vistas!).
.
(parece-me que essa semana é propícia para rememorar os encontros e desencontros que tive com eles pelo rio de janeiro.)
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ouvindo: a outra - los hermanos.
- com licença?
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você fingiu não ouvir.
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- oi! eu só queria parabenizar você pelo trabalho. eu gosto demais do seu som.
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você virou os olhos na minha direção. por trás daqueles óculos de aro preto grosso, olhos castanhos pequenos. você me olhou com desdém. será que você lembra? um desdém que até mesmo os que do outro lado da rua estavam podiam perceber. desdém esse que gelou o ar e parou o tempo para que você proferisse as seguintes palavras:
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- eu não falo com estranhos.
.
e você virou os olhos para o sorvete, como se eu nunca estivesse estado (repare no tempo verbal, querido!) ali, na sua presença, que se supervalorizou naquele instante segundo seu próprio ego.
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com a boca ainda entreaberta e os olhos espantados, dei passos para trás. eu e meu creme holandês que, de repente, havia perdido o sabor doce que tanto adorava.
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estranheza. percebi então que temos a sensação de conhecer certas pessoas porque as escutamos e acreditamos, sinceramente, que o que as canções dizem são o retrato verdadeiro dos que as interpretam. ao vermos-os em fotos, na televisão, temos a impressão de que abrimos nossas portas e que eles então fazem parte do nosso dia a dia, bem como fazemos do deles. e, a verdade, é o que você mesmo comentou pelos idos desse 2003 esquecido no seu próprio blog sobre uma entrevista do humberto gessinger para a mtv: a relação fã-artista é desigual porque estes acabam conhecendo você tão intimamente através do seu trabalho, das coisas que a mídia expõe da sua vida pessoal e você não tem a oportunidade de conhecer um terço deles tão a fundo. desequilíbrio.
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talvez, se eu soubesse naquele momento que esse tal desequilíbrio incomodava você tão profundamente, teria ouvido a parte de mim que me disse copiosamente para deixar você com seu sorvete, sua revista e sua antipatia em paz. mas, como todo ser humano, uma chance de dividir com você a minha, então, admiração me pareceu propícia.
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não deixei jamais de admirar a banda, de me entreter com as músicas e, até mesmo, de acreditar que boa parte delas falam mais sobre mim do que eu mesma seria capaz de dizer. mas, certamente, eu hoje pensaria mais que instantes antes de qualquer demonstração de agradecimento ou afeto para você, que sempre me pareceu um dos mais simpáticos.
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mas, como eu costumo dizer: admiração sempre, fanatismo só dentro das minhas quatro paredes (bem, bem longe das suas vistas!).
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(parece-me que essa semana é propícia para rememorar os encontros e desencontros que tive com eles pelo rio de janeiro.)
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ouvindo: a outra - los hermanos.