porque a gente nunca sabe de quem vai gostar...
havia sonhado.
.
há muito tempo não sonhava. não sonhava de se recordar, no dia seguinte, os detalhes. mas essa noite havia sonhado e ele estava lá. julgava-se curada dessa coisa toda que cismou em invadir seu peito há uns dois meses atrás. bobeira. parecia até criança quando falava do assunto. mas, no sonho, estava ele lá. bonito como seus olhos o viram por quatro anos.
.
ao acordar, pensou no como e no porquê. talvez por ter sido questionada, na noite anterior, sobre seu interesse por uma pessoa que parecia ser tão fria e distante. ela nunca fora racional, no entanto, sempre se via capaz de informar os curiosos de plantão do que cada paixão sua tinha que a deixava em estado apneico nas madrugadas. dessa vez, no entanto, não tinha uma boa resposta. por que ele lhe tirava o ar? tão difícil dizer.
.
ele era uma rocha. calado, frio, parado num ponto distante e passível de admiração pelo simples fato de estar lá. não demonstrava seus sentimentos, seus gostos e suas vontades. ao contrário dela, sempre tão febril, tão sentimental, tão ardente e impulsiva. era seu oposto em carne, osso e belos olhos misteriosos e pequenos.
.
e, por incrível que pareça, essa atmosfera de distinção a irritava mais que a atraía. mas eram quatro anos de idas e vindas. desde o primeiro dia em que seus olhos se puseram nele, então em um nível superior - fisicamente -, com os cabelos caindo em cascata pelos ombros, viril e seguro, como a rocha que aparenta ser, não saiu de seu pensamento.
.
na época, ambos tinham seus respectivos pares. ela, um rapaz simpático, certinho e com gostos muito semelhantes aos seus. ele, uma moça bonita e festeira. pareciam bem. casais distintos que não imaginavam ter destinos cruzados de forma alguma. ela, na verdade, jamais imaginou que aquele interesse platônico pudesse se converter em palavras algum dia.
.
guardou para si aquele momento. ele sequer sabia do verde ardendo dentro dos olhos dela, verde de uma ganância enorme, de uma vontade de tê-lo a todo e qualquer custo. paixão fervilhante e, até então, movida pelo desejo que corria pelo corpo esquentando o sangue e eriçando os pêlos.
.
anos depois - quatro, exatamente -, estão os dois desempedidos, por assim dizer. ela, vinda de uma relação um pouco destruidora - desgastada, cansada e descrente de muitas das coisas bonitas que o amor insiste em pregar - e ele, sempre com a aura de mistério perpassando suas palavras.
.
a sensação que lhe havia tomado por inteira naquela noite voltava. a ânsia, a dor no estômago, a sensibilidade na pele, a quentura nas maçãs do rosto, o medo. tudo, de volta, se manifestando a cada sorriso, passo, palavra, pensamento que fosse dele ou sobre ele. paixão daquelas que rasgam a gente sem que a gente possa entender porquê, como, de onde veio e para onde vai. a bela e inexplicável paixão carregada de um desejo imenso e de expectativas maiores aindas.
.
doce fel, um paradoxo, que embriagava-a ao menor sinal da presença do outro. dormir ardendo, acordar ardendo. mãos, pés, pernas, braços, coração. o tudo era uma coisa só. e há tempo não ardia assim, nessa inconseqüência toda, nessa avassaladora porém gentil destruição de si mesma.
.
foi então que, em certo momento, fez-se preciso concretizar antes que explodisse. e ela criou uma coragem, tomou-a pelas mãos e soltou-a, diante dos olhos dele. fez-se nua ainda que vestida para que ele pudesse ver o quão sério era o frio na espinha que lhe subia conforme pensava nos olhos, na boca, nos ombros, nos braços, nas pernas, nos pés... fez-se vulnerável e disposta a aceitar o que ele pudesse, naquele momento, oferecê-la. submeteu-se. pôs-se aos pés do objeto amado, cobiçado, leve obsessão que carregava consigo por dias e noites, tão preciosa.
.
ele a ergueu. olhou-a nos olhos. um verde quente escorria pelos canais lacrimais. terno - e, pela primeira vez, esboçando uma fração de sentimento diante dos olhos dela -, disse-lhe que não era recíproco. manteve-se firme ainda que confuso ou, quem sabe, sem jeito.
.
ela segurou-se. não desabou diante dos olhos de mistério que tanto a encantavam. fez-se rocha por um momento e fingiu entender, fingiu concordar, fingiu-se de amiga. disse-lhe, então, que manteria-se próxima, como alguém que vela o sono de um irmão, prometendo-lhe não interferir em qualquer que fosse sua próxima escolha de vida. ele nunca a pedira nada disso, mas ela sentia que precisava provar sua capacidade de se manter de pé, de queixo erguido.
.
com o passar dos dias, menos e menos falavam-se. até que tudo que era barulho, silenciou-se. e hoje só há o silêncio gélido dos que se evitam, consciente ou inconscientemente. e os sonhos ocasionais, onde o verde dos olhos ainda fervilha bem como todo o corpo, em ardência e incandescência.
.
havia sonhado.
.
.
.
ouvindo: you give love a bad name - bon jovi.
shot through the heart and you're to blame
darling, you give love a bad name...
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há muito tempo não sonhava. não sonhava de se recordar, no dia seguinte, os detalhes. mas essa noite havia sonhado e ele estava lá. julgava-se curada dessa coisa toda que cismou em invadir seu peito há uns dois meses atrás. bobeira. parecia até criança quando falava do assunto. mas, no sonho, estava ele lá. bonito como seus olhos o viram por quatro anos.
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ao acordar, pensou no como e no porquê. talvez por ter sido questionada, na noite anterior, sobre seu interesse por uma pessoa que parecia ser tão fria e distante. ela nunca fora racional, no entanto, sempre se via capaz de informar os curiosos de plantão do que cada paixão sua tinha que a deixava em estado apneico nas madrugadas. dessa vez, no entanto, não tinha uma boa resposta. por que ele lhe tirava o ar? tão difícil dizer.
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ele era uma rocha. calado, frio, parado num ponto distante e passível de admiração pelo simples fato de estar lá. não demonstrava seus sentimentos, seus gostos e suas vontades. ao contrário dela, sempre tão febril, tão sentimental, tão ardente e impulsiva. era seu oposto em carne, osso e belos olhos misteriosos e pequenos.
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e, por incrível que pareça, essa atmosfera de distinção a irritava mais que a atraía. mas eram quatro anos de idas e vindas. desde o primeiro dia em que seus olhos se puseram nele, então em um nível superior - fisicamente -, com os cabelos caindo em cascata pelos ombros, viril e seguro, como a rocha que aparenta ser, não saiu de seu pensamento.
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na época, ambos tinham seus respectivos pares. ela, um rapaz simpático, certinho e com gostos muito semelhantes aos seus. ele, uma moça bonita e festeira. pareciam bem. casais distintos que não imaginavam ter destinos cruzados de forma alguma. ela, na verdade, jamais imaginou que aquele interesse platônico pudesse se converter em palavras algum dia.
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guardou para si aquele momento. ele sequer sabia do verde ardendo dentro dos olhos dela, verde de uma ganância enorme, de uma vontade de tê-lo a todo e qualquer custo. paixão fervilhante e, até então, movida pelo desejo que corria pelo corpo esquentando o sangue e eriçando os pêlos.
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anos depois - quatro, exatamente -, estão os dois desempedidos, por assim dizer. ela, vinda de uma relação um pouco destruidora - desgastada, cansada e descrente de muitas das coisas bonitas que o amor insiste em pregar - e ele, sempre com a aura de mistério perpassando suas palavras.
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a sensação que lhe havia tomado por inteira naquela noite voltava. a ânsia, a dor no estômago, a sensibilidade na pele, a quentura nas maçãs do rosto, o medo. tudo, de volta, se manifestando a cada sorriso, passo, palavra, pensamento que fosse dele ou sobre ele. paixão daquelas que rasgam a gente sem que a gente possa entender porquê, como, de onde veio e para onde vai. a bela e inexplicável paixão carregada de um desejo imenso e de expectativas maiores aindas.
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doce fel, um paradoxo, que embriagava-a ao menor sinal da presença do outro. dormir ardendo, acordar ardendo. mãos, pés, pernas, braços, coração. o tudo era uma coisa só. e há tempo não ardia assim, nessa inconseqüência toda, nessa avassaladora porém gentil destruição de si mesma.
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foi então que, em certo momento, fez-se preciso concretizar antes que explodisse. e ela criou uma coragem, tomou-a pelas mãos e soltou-a, diante dos olhos dele. fez-se nua ainda que vestida para que ele pudesse ver o quão sério era o frio na espinha que lhe subia conforme pensava nos olhos, na boca, nos ombros, nos braços, nas pernas, nos pés... fez-se vulnerável e disposta a aceitar o que ele pudesse, naquele momento, oferecê-la. submeteu-se. pôs-se aos pés do objeto amado, cobiçado, leve obsessão que carregava consigo por dias e noites, tão preciosa.
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ele a ergueu. olhou-a nos olhos. um verde quente escorria pelos canais lacrimais. terno - e, pela primeira vez, esboçando uma fração de sentimento diante dos olhos dela -, disse-lhe que não era recíproco. manteve-se firme ainda que confuso ou, quem sabe, sem jeito.
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ela segurou-se. não desabou diante dos olhos de mistério que tanto a encantavam. fez-se rocha por um momento e fingiu entender, fingiu concordar, fingiu-se de amiga. disse-lhe, então, que manteria-se próxima, como alguém que vela o sono de um irmão, prometendo-lhe não interferir em qualquer que fosse sua próxima escolha de vida. ele nunca a pedira nada disso, mas ela sentia que precisava provar sua capacidade de se manter de pé, de queixo erguido.
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com o passar dos dias, menos e menos falavam-se. até que tudo que era barulho, silenciou-se. e hoje só há o silêncio gélido dos que se evitam, consciente ou inconscientemente. e os sonhos ocasionais, onde o verde dos olhos ainda fervilha bem como todo o corpo, em ardência e incandescência.
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havia sonhado.
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ouvindo: you give love a bad name - bon jovi.
shot through the heart and you're to blame
darling, you give love a bad name...