cabe no meu sonho.
a gente anda pelas ruas de botafogo. de mãos dadas. você gosta de café expresso. e eu vou registrando os seus passos na minha nikon. essa coisa toda é muito simples. dormimos tarde. acordamos mais tarde ainda. nossa música é o som das buzinas da muniz barreto. estridência. calçamos pares de all star. os meus têm uma estampa xadrez engraçada e são sem cadarço. os seus são velhos. e nos sentamos num banco em frente à praia. fico observando seu perfil. gosto do seu nariz e da sua testa. e de como o seu queixo salta, mas de uma forma harmônica e sutil. então há a sua orelha direita, envolta no negrume dos cabelos. o pavilhão é de desenho excepcional. o lóbulo sustenta esplendorosamente 10mm de um alargador. parece uma obra de arte qualquer dessas dos museus modernos. eu não sei explicar. a sua orelha direita é o ponto de partida. dela nasce todo o seu universo. pescoço, nuca, face, ombros, membros. nasce você e seu violão. nascem canções, uma por uma. e a sua voz. e a sua cor. e a haste preta dos seus óculos. nasce tudo que imagino sem ao menos saber se isso cabe em você. porém, cabe no meu sonho. até que exista outro sonho a ser sonhado.
ouvindo: você tem - gram.
ouvindo: você tem - gram.