quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

estamos, então, virados de costas um para o outro. e se dou um passo, me afasto. e se tento me virar, temo empurrar você pra longe. ficamos parados de modo que apenas ouvimos nossas próprias vozes. uma vez ao dia, ao menos, não há o ensurdecedor silêncio de buzinas, freios, máquinas, outros homens e outras canções. é como se, no escuro, nos procurássemos. é como se, nas distâncias, nos jogássemos. corpo contra corpo. as minhas costas. as suas costas. as nossas mãos que não se encontram, não se tocam, não se sentem. é como se erguessemos um muro invisível, não por proteção mas pela involuntariedade das coisas. quando é - me pergunto - que o tempo pára para que nós finalmente estejamos no mesmo lugar, na mesma hora? e se jamais parar, como é que nós dois nos prendemos um ao outro para não sermos carregados pelas ondas da imprevisibilidade? quando é, enfim, que nos damos as mãos e caminhamos o mesmo caminho? ou mesmo nos olhamos de frente, olho no olho?

será querer demais? será pedir demais?
será que vale a pena acreditar no momento?


ouvindo: melhor assim - fresno.