ela quis algo triste, muito triste. algo melancólico e frio, vazio em si mesmo. ela quis observar pela janela a chuva cair na muniz barreto. a percepção das coisas fica comprometida quando nada é preocupante. se há contas para pagar e um amor ao telefone, amanhã as coisas se resolvem. não é preciso pressa. nem é preciso angústia para se viver. calma, assim não falta passo ao coração. avante, avante. o marcelo ficava cantando no ouvido dela. ainda assim, todos os sentimentos mornos e ternos mascaravam a vida real fora do corpo. então parou, fechou os olhos e pensou na dor. uma dor qualquer de quebrar um braço ou do término de um relacionamento. não pôde. não sentiu nada. não sentiu pontada de faca na barriga. engraçado o que vem e o que apaga tudo o que se sabe previamente impedindo a gente de não cometer os mesmos erros, pensou. um dia nublado não garante uma insegurança, um medo. nem ao menos uma saudade qualquer das coisas já vividas. essa coisa triste que ela quis para se lembrar do que é real passou a ser uma coisa que nem inventada pode ser. ela não sentia machucar. não sentia dedos de vidro cortando-na por dentro. não sentia a absolução do errado. ela não sentia queimar, arder, quebrar, sofrer.
porque enquanto houver um amor, ao telefone ou não, as contas para pagar se resolverão pela manhã.
ouvindo: the mixed tape - jack's mannequin.
porque enquanto houver um amor, ao telefone ou não, as contas para pagar se resolverão pela manhã.
ouvindo: the mixed tape - jack's mannequin.