quarta-feira, 28 de maio de 2008

too much.

ela sente sangrar, deixa escorrer. a única certeza, em vida, é a morte. essa certamente vem implacável, cuidando de que nada fique no caminho do que precisa nascer. nascer, hoje, é abandonar-se do corpo que carrega e começar, mais uma vez, de outra maneira. ela sente a dor, os espasmos seqüenciais que já a tomam por inteiro. são lágrimas que vertem dos olhos verdes, são pontadas agudas no peito como pequenos infartos. amar é, então, a morte lenta e dolorosa de cada sentido, do apagar do clarão dos olhos a imobilização dos membros, a sudorese, a secura da boca e dos lábios... amar é, então, compreender em pequenas doses todas essas dores provenientes das pequenas frustrações, dos medos, dos erros... amar é, então, deixar-se sangrar imaginando a recompensa maior. e a maior recompensa é perceber que cada dor nos eleva, nos deixa mais próximos do objeto amado, mais em transe, mais ligados, mais parte do corpo do outro, mais puros e mais prontos. e morremos, a cada instante, com cada passo, em cada beijo... morremos para que nasça isso em que acreditamos, isso para que vivemos, aquele em que nos vemos refletidos, abrigados, destituídos dos males.

vale a pena, ela pensa. sangrar assim, sentir essa dor pungente, esse ciúme, essa vontade de ser pele, osso, músculo, essa angústia, essa tristeza, essa delícia, esse medo, esse cuidado, esse carinho, essa ponta de faca cortando a carne rente... vale a pena, ela pensa, vale a pena...






ouvindo: raining in baltimore - counting crows.