domingo, 10 de dezembro de 2006

quando eu for embora.

me diz pra não ir. cigarro na mão, copo na mesa. retruco dizendo que, se eu não for, nunca vou me encontrar. pergunta se eu preciso mesmo ir pra me encontrar ou se não estou apenas me enganando. acendo um cigarro da ponta do seu. sorrio. preciso mesmo ir. ainda que esteja fugindo. com as mãos no copo, delicadamente acaricia a borda. tem um olhar carinhoso. pergunta do que eu fujo. eu respondo: "de você." sorri. e eu digo: "você está em todos os lugares, me sufoca." continua sorrindo. leva o cigarro à boca. traga. apago o meu. muita fumaça no ar. diz que me acha engraçada. diz que gosta dessas conversas. diz que vai sentir falta. eu digo que também vou sentir falta de tudo. mas quando eu for embora, ele também irá. ele diz que não queria que nos separassemos assim. diz que somos bons companheiros de sonhos e conversas solitárias em madrugadas de insônia. e eu digo que é preciso. eu digo que viver da não-existência dele não é vida. e ele pergunta se vou deixar ele viver em algum cantinho da memória. eu digo que talvez eu deixe. mas eu sei que não. quando eu for embora, ele também irá. ele vai desaparecer na fumaça de seu próprio cigarro. e, então, talvez eu respire aliviada. ele diz que sabe que a separação é um ponto final. eu sorrio. eu digo que pontos finais não existem. pausas, sim. e a pausa pode até ser longa mas, em outras vidas, recuperaremos esse tempo. ele sorri. e finge que acredita. mas eu sei... quando eu for embora, ele também irá.
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ouvindo: piano lessons - porcupine tree.